Por esta altura, já todos compreendemos que um dos traços característicos da situação de histeria pandémica que vivemos é a constante violação e o consequente reposicionamento da barreira do impensável.
Era impensável que o Presidente da República Portuguesa, como vários outros chefes de Estado, decretasse e renovasse indefinidamente o Estado de emergência, permitindo limitações draconianas à livre circulação e a outros direitos fundamentais dos Portugueses a pretexto de uma gripe que mesmo, usando os critérios abusivos e fraudulentos de atribuição dos óbitos à C-19, tem uma taxa de mortalidade equivalente à da velha gripe sazonal.
Era impensável que toda a espécie de organismos internacionais, agências de saúde nacionais e grandes grupos de imprensa e audio-visuais conspirassem para reprimir, suprimir, demonizar e proibir vários tratamentos demonstradamente eficazes, seguros e baratos para o tratamento da síndrome do C-19, entre os quais a hidroxicloroquina e a ivermectina.
Era impensável que autoridades de saúde, um pouco por todo o mundo, mas muito particularmente no Ocidente, ordenassem aos doentes do referido síndroma gripal que se abstivessem de procurar tratamento médico e que se limitassem a tomar um febrífubo e analgésico até se sentirem tão mal e com dificuldades tais de respiração que a única opção seria a de se fazerem internar num hospital.
Era impensável que, um pouco por todo o mundo, Estados e respectivas agências de saúde, incessantemente amplificados por uma comunicação social conivente, coagissem as populações a submeterem-se a um tratamento genético experimental, relativamente ao qual, várias autoridades médicas e científicas têm emitido as mais vincadas reservas, não obstante serem sistematicamente censuradas nas principais plataformas de comunicação social e nas principais redes sociais. Falo de personalidades como o Prof. Luc Montaigner em França, o Dr. Michael Yeadon no Reino Unido, o Dr. Wolfgang Woodarg na Alemanha, ou o Dr. Peter McCullough nos EUA, entre muitos outros.
Era impensável que a campanha “vacinal” persistisse apesar de, em poucos meses, o sistema de vigilância medicamentoso Americano, VAERS, registar mais de 6.000 mortes na sequência das injecções, e o Europeu, o EudraVigilance, contabilizar mais de 16.500 mortes pós-injecções, quando, no passado, campanhas vacinais foram suspensas após apenas algumas dezenas de mortes registadas nestes sistemas. Era impensável que estes números fossem totalmente silenciados pela comunicação social. Dado o dogma ferozmente proclamado da segurança das injecções e o correlativo tabu sobre a evocação de quaisquer efeitos adversos, podemos inferir com segurança que os números reais serão muito superiores, e ainda a procissão vai no adro.
Poderia continuar por muitas mais páginas com os inúmeros impensáveis sucessiva e simultaneamente percorridos pelo ritmado passo de ganso das botas pandémicas.
Face às muito numerosas mortes reais ocasionadas por protocolos de saúde mortíferos, pela supressão de recursos medicamentosos seguros e acessíveis, e pelos obstáculos arbitrários que impediram muitos doentes de receber tratamento médico vital, um artigo de opinião da directora de uma revista hebdomadária pode parecer um tema irrisório.
Não é.
O artigo de Mafalda Anjos na Visão, intitulado “Os Penduras,” é um libelo acusatório que dirige um ódio inaudito sobre todos os Portugueses que rejeitam ser inoculados com a terapia genética experimental. Num artigo de menos de 700 palavras, a Sr.ª Mafalda Anjos consegue chamar a esses seus concidadãos: penduras, parasitas, incivis, egoístas, negacionistas, alucinados, libertários, chico-espertos, ignorantes, iluminati, imbecis, jumentos, cobardes, medrosos, alternativos, anti-vaxxers, pseudoanarquistas, antissociais, neo-new-age, inconsequentes, mal-educados, privilegiados. Não conto as repetições nem os insultos compostos (ex.: “irracionalidade própria da juventude”, etc.).
O chuveiro de estereótipos seria pitoresco num contexto mais beningo, como é o caso dos “pseudoanarquistas” que “têm filhos em casa numa banheira insuflável” ou o das “pessoas de classes favorecidas, entretidos [sic] nas suas bolhas, entre festas, copos e convívios,” onde a jornalista, içada pelo representante Português permanente no grupo Bilderberg à direcção das suas revistas, parece reflectir a experiência desencantada dos círculos sociais a que ascendeu.
Infelizmente, neste panfleto inflamatório, nenhum dos dislates da Sr.ª Mafalda Anjos merecerá um sorriso sequer do raro leitor esclarecido que nele tropece. Não porque se possa imputar uma profunda e informada perfídia à jornalista; o seu argumentário destrambelhado e o seu alinhamento perfeito com a narrativa oficial são evidência suficiente de que estamos diante de uma dessas criaturas que proliferam actualmente nos cargos de chefia da imprensa e do audiovisual mainstream e que se caracterizam menos pela competência, pelo discernimento ou pela capacidade de liderança, do que pela capacidade de obediência regular, desimpedida de qualquer espírito crítico, escrúpulo ou espasmo de consciência.
A autora deste artigo não fez mais do que autorizar as núpcias programáticas das camadas menos elaboradas da sua natureza humana com as directivas da narrativa oficial que orienta a histeria pandémica. A história é velha como os homens, e já em Março passado [1] antecipei, com desgosto, o papel que caberia aos que recusam a injecção.
Não creio que quando professa a existência de “pelo menos quatro tipos de penduras: negacionistas, cobardes, alternativos e inconsequentes,” a “autora” esteja consciente de que está a fazer eco a uma triste matriz da experiência humana, e mais especificamente ao momento cardinal da designação e categorização do grupo que encarna o mal.
Como aquelas pessoas que nos supermercados seguem religiosamente as setas e param devotamente nos círculos traçados no chão, a Sr.ª Mafalda Anjos recita obedientemente o guião das injecções como a “única solução” para logo se deparar com o impenitente obstáculo dos “penduras.”
A história repete-se monotonamente, embora os figurantes que ocupam o lugar dos “penduras” varie no espaço e no tempo.
Nas primeiras décadas da União Soviética, os kulaks foram os “penduras” eleitos. Para ser um kulak, bastava ter dois ou três hectares de terra e duas vacas, mas os critérios foram variando. Durante os anos 20 e princípio dos anos 30, bastava ter mais terra do que os outros, mais um cavalo ou uma vaca, para se ser um kulak. Desde a ordem de Lenine, em 1918, de que se enforcasse uma centena de kulaks para instilar o medo e a obediência nos restantes, que os kulaks foram sendo classificados, categorizados, perseguidos e massacrados.
Quando, em 30 de Janeiro de 1930, o Politburo aprovou a dissolução dos kulaks como classe, distinguiu, um pouco ao estilo da Sr.ª Mafalda dos Anjos, três categorias: a primeira, composta pelos que seriam enviados para os Gulags; a segunda, pelos que seriam enviados para províncias distantes; e a terceira, pelos que seriam enviados para outros locais da sua província. Alguma desta subtileza burocrática perdeu-se pelo caminho, e se a maioria dos kulaks seguiram para o desterro, muitos foram expeditamente liquidados in loco. Pelo menos meio milhão terá sido directamente executado ao longo destes anos e vários milhões expropriados e deportados.
Uma das consequências directas da destruição biológica, económica e social dos kulaks foi a grande fome de 1932-33 na qual pereceram vários milhões de “cidadãos” da União Soviética. É que, apesar de constituirem 1/5 dos camponeses, os kulaks eram responsáveis por metade de toda a produção de cereais.
Quando os coronavírus sazonais regressarem e a reactividade-cruzada suscitada pelas semelhanças estruturais entre (1) os epítopos da proteína-pico induzida pelas injecções, (2) as proteínas-pico dos quatro coronavírus sazonais, e (3) cerca de duas dezenas de sequências moleculares existentes em diferentes tecidos do corpo humano suscitar inúmeros e desvastadores casos de reacções imunitárias disfuncionais e de doença exacerbada, receio que os não-injectados venham a ter de cuidar de mais do que de metade de todos os doentes, acamados e moribundos.
Como a Sr.ª Mafalda Anjos, os partidários de Pol Pot no Cambodja, também acreditaram ter identificado a parte da população problemática que constituía o único obstáculo entre a miséria em que se reviam e o paraíso comunista a que aspiravam. Para os Kmer Rouges, os “penduras” eram os “intelectuais,” i.e. todos aqueles que não trabalhavam com as mãos. Ao contrário dos não-injectados, muito difíceis de identificar sem a maquinaria recenseadora e traçeadora do Estado, os “intelectuais” podiam ser simplesmente identificados pelo uso de óculos ou pela ausência de calos nas mãos. Entre 1975 e 1979 os precursores Kmer da Sr.ª Mafalda Anjos executaram entre 1,5 e 2 milhões de pessoas, quase ¼ da população do Camboja.
Um exemplo muito mais presente a todos é, naturalmente, o dos Nazis. Todavia, poucos se lembram de que, entre a eleição e a designação de Hitler como chanceler, em 1933, e o extermínio de massa nos campos de concentração, na primeira metade dos anos 40, se passaram vários anos, e que um longo trabalho de categorização e de demonização dos deficientes, dos homossexuais, dos ciganos e dos judeus precedeu a sua execução industrial — e não sem que antes interviessem as fases ou modalidades da (1) restrição de movimentos e do recolher obrigatório nos guetos, (2) da suspensão de protecções legais permitindo detenções e entradas forçadas em domicílios, (3) da discriminação através de identificadores específicos (a cruz amarela que os judeus tinham de usar), e (4) das expropriações dos “penduras,” para usar a terminologia da Sr.ª Mafalda Anjos.
Ao reflectir nas possibilidades diferenciais de redenção das suas diferentes categorias de “penduras,” a Sr.ª Mafalda Anjos reserva o sentimento mais benévolo que um “pendura” lhe consegue suscitar — refiro-me evidentemente à sua condescendência — aos “cobardes,” aos quais, do alto da sua manifesta competência na matéria, se dispõe a prodigalizar o seu entendimento das “conquistas da ciência que não têm obrigação de conseguir entender.” Suspeito que o silogismo “vacina = bom; injecção C-19 = vacina; ergo injecção C-19 = bom” figure de forma proeminente senão mesmo exclusiva no arsenal intelectual com que a Sr.ª Mafalda dos Anjos pretende convencer os “penduras cobardes” da segurança da terapia genética experimental mais usada em Portugal, a da Pfizer, cujos testes clínicos deverão concluir-se em Maio de 2023.
Já no que toca aos jovens, esses “penduras” irracionais e/ou priveligiados, a Sr.ª Mafalda Anjos espera que a proibição de acesso a espaços públicos surta o seu efeito. Com efeito, se, na visão racial dos nazis, um judeu nunca poderia deixar de o ser, os jovens, esses, podem sempre redimir-se envelhecendo, muito embora seja de recear que a solução injectiva da Sr.ª Mafalda Anjos os redima ainda mais subitamente.
Quando as coisas chegam a este ponto e os detentores do poder decidem soltar, entregues aos seus instintos mais genuínos, as Sr.ªs Mafalda Anjos deste mundo, torna-se difícil determinar o quão relevante ainda pode ser a evocação de coisas básicas, em tempos institucionalmente normais, como o facto de a coacção — como aquela que a Sr.ª Mafalda Anjos deseja ver concretizada — constituir um crime tipificado no Código Penal Português; ou o facto de que coagir alguém a submeter-se a um tratamento médico constitui uma violação do artigo 3.º da Declaração Universal da Bioética e dos Direitos Humanos de que Portugal é signatário; ou o facto de que discriminar alguém por a pessoa recusar sujeitar-se a um tratamento médico constitui uma violação do artigo 11.º da mesma Declaração; ou ainda o facto de que, tratando-se de terapias experimentais, a coacção às mesmas ser uma violação directa e inequívoca do Código de Nuremberga, proclamado no rescaldo da 2ª Guerra Mundial na esperaça de que, no futuro, as exacções de um Dr. Mengele fossem impossíveis.
Não são. Para pessoas como a Sr.ª Mafalda Anjos, os não-injectados são como os Tutsis para uma ministra Hutu do então primeiro-ministro do Ruanda, Jean Kambanda, para quem, em palavras reportadas por este último: “Sem os Tutsis, todos os problemas do Ruanda desapareceriam.”
Miguel Montenegro, 9 de Julho de 2021
Portugal
Nota:
[1] “Porque recuso ser vacinado contra o coronavírus e porque considero a pandemia uma fraude.” (22 de Março de 2021.)
4 comentários:
Excelente.
Brilhante!
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