domingo, 18 de junho de 2023

Os bem-pensantes e a maluqueira das redes sociais



Há muita maluqueira nas chamadas redes sociais. Mas não é pela maluqueira propriamente dita que elas têm fama de lixeira cognitiva. Aquilo que realmente atrai o opróbrio dos bem-pensantes é o facto de, juntamente com a maluqueira, e apesar da censura brutal e crescente, as redes sociais permitirem a comunicação de visões da realidade racionais, baseadas em factos, e bem referenciadas, que contradizem frontalmente as narrativas oficiais que, essas, não são nunca sujeitas ao mesmo tipo de crítica.


Quando a maluqueira não está presente, ela é activamente fabricada e injectada nas redes sociais pelos serviços de informação e por outros actores solidários com, e beneficiários da, narrativa oficial, afim de desacreditar as análises e informações intelectualmente robustas que possam fazer perigar a narrativa oficial.


Na minha opinião, os bem-pensantes ingénuos que fazem eco a este ataque falacioso à liberdade de expressão e aos seus produtos válidos, fazem-no porque, precisamente, não têm nem vontade nem coragem para pensar pelas suas próprias cabeças.


A lealdade dos bem-pensantes aos meios de propaganda social nasce do seu desejo de receber e de usar, como se fossem seus, ideias, pensamentos e argumentos validados pelos poderes centrais, com a garantia, implícita mas à prova de bala, de que não serão desafiados na praça publica porque "toda a gente" sabe que é assim.


Quando falamos com um bem pensante sobre uma dessas "verdades públicas," reparamos que a sua atitude se altera subitamente. A sua capacidade para examinar factos e sopesar argumentos desaparece por completo para dar lugar à exasperação e à indignação da vítima de um logro que recusa aceitar que possa ter sido enganado, pois aceitar reconhecer o logro em que caiu implica contemplar as fraquezas e motivações pouco confessáveis que o precipitaram no engano.


Os bem-pensantes ingurgitam com complacência, senão com entusiasmo, todos os conteúdos que corroboram as suas pré-concepções, desde que oriundos de fontes dotadas de prestígio, e que sejam vertidos com a correcção formal, etiqueta e design gráfico que lisonjeiam o seu auto-conceito de sofisticação.


Aliás, as pré-concepções mais estimadas pelos bem-pensantes não têm outra origem senão a de anteriores disseminações miméticas dos meios de propaganda social. São uma espécie de precipitado sedimentar de venenos cognitivos passados.


O que seria dos bem-pensantes sem a cortina de fumo da "maluqueira" das redes sociais a ocultar o espelho da contra-narrativa factual e racional — espelho esse que lhes devolveria a sua imagem real: a de seres cobardes, dependentes, arrogantes, preguiçosos e hipócritas, sempre dispostos a empurrar para o acidente de viação da infâmia quem, com grandes custos pessoais, se ergue contra o o rolo compressor do unanimismo orquestrado pelos poderosos manipuladores da opinião pública.